quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sobre um vale.

E aquela rosa, finalmente chegou a secar.
Seu reflexo ao espelho, desapareceu.
Onde está sua alma agora?
Quebradiça.
Nadando em um vale de lágrimas
Águas salgadas
Amargas
Melancólicas.
Que te sugam a vida.
Te sugam a liberdade e a juventude.
O vale também secou ao tocá-la.
Aquele campo verde, desbotou.
Cores beges escuras ao redor.
O que ela vê ao penetrar naquele sádico horizonte ?
Infinito nada.
Anda sem sair do lugar.
Grita sem omitir som.
Chora sem escorrer lágrimas.
Pular com os pés no chão morto.
Procura sem encontrar nada.
Mal sabe o que está procurando.
Como será a verdadeira forma da libertação?
Seria um animal com asas?
Seria um feixe de luz branco e calidamente iluminado?
Tudo o que sempre imaginara.
Sem perceber um manto negro está a devorar seus restos.
Seu coração foi arrancado a força e colocado em uma balança de prata.
Se seu coração for mais leve que uma pena, terá um chance de sobreviver.
Sim, seu coração é mais leve.
Mas não por ser tão puro quanto pensava.
Estava enrugado como uma bexiga ao chegar próxima demais de uma agulha fina.
Só seus tecidos jogados ali naquela bandeja que refletia seu olhar triste.
Mesmo que se remende aqueles furos no peito, nunca mais voltara a ser como era.
Foram as traiçoeiras agulhas da vida.
Foram as lâminas afiadas de uma adaga de palavras.
Nesse mundo onde todos são agulhas e todos são adagas.
Acredito que até eu seja uma delas.
Provavelmente.
E ela pensa com cuidado..
'' Como se enche uma bexiga que está furada? ''

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sobre pétalas vermelhas.

Não,eu não sou um pássaro.
Não,eu não sou um gato pardo.
O que eu sou? Não sei dizer.
Talvez eu seja uma forma não reconhecida ainda.
Só vista pelos que tem olhos afrodisíacos.
Sim, eu sou uma sombra iluminada que passa pelos cantos das paredes.
Eu passo pelas ruas.
Invisível como o vento.
Sente-se e não vê.
Invisível no escuro e na luz.
Transparente e incolor.
Sem cheiro, sem tom.
Que cor sou eu?
Não sei que cor sou eu.
Sou uma mutação de cores ambulantes.
Nunca serei a mesma cor.
Não tenho cor para os olhos sólidos dos juízes que me apontam o dedo.
Não sou o réu e não sou a testemunha.
Estou em julgamento,mesmo que não me vejam.
Sou uma gota de chuva.
Sou um sopro.
Sou uma rosa vermelha.
Tenho espinhos, mas não são para te machucar.
São para me proteger daqueles que arrancam minhas pétalas pequeninas e fragilizadas, mesmo que assim ,raras e não conhecidas.
Por que diamantes são tão valorizados? Por que existem pouco deles por ai?
São raros.
Por que as pessoas que são raras como os diamantes não são tão valorizadas?
Por que não somos como lindos diamantes?
Tudo seria mais fácil.
Estou escondida em uma pedra.
Sou uma pedra.
E ainda sim sou uma flor.
Que perfume singular.
Apenas os beija-flor chegam a mim.
Os outros animais não possuem todo o esplendor de um pássaro como o beija flor.
As pétalas não caem sozinhas.
São arrancadas.
Sou uma flor murcha.
Coloque-me em um jarro de água?
Está tão difícil achar um de um copo de vidro delicado e fresco.
Essa rosa está amassada no chão,apodrecendo com os materiais orgânicos
Que se decompõe lentamente.
Estão cansados de existir.
Tire esta flor de lá, toque em seus espinhos.
E se doer, perceba que não há veneno por mais que tenha feito um corte em seu dedo.
Essa flor está doente.
Só precisa de um pouco de água para florecer novamente.
Quem sabe da próxima vez nasça mais bonita do que antes.
Seu perfume já estava sutil, e sua cor desbotada com os dias chuvosos.
Sou uma flor..
jogada no vento.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Sobre asas negras.

Moço de asas negras.
Por que as machuca tanto?
Ele dorme, com lágrimas vermelhas
Coração latejante.
O que é você?
Pequeno homem, me conte.
Grande menino, o que é você?
Por que esconde suas penas?
Aquele garoto não sabia chorar..
O que ele aprendeu enquanto voava na masmorra da vida?
As surpresas são armadilhas..
que o aprisionaram
Eu vejo lanças em suas asas.
Aquela prisão virou seu lar.
Seu bem precioso.
Lastimável.
No que ele sonha agora?
Suas nuvens ilusórias estão rindo.
Ele dorme tranquilo,
seus suspiros se esvaneiam no ar tão docemente.
Meu menino das asas negras, dorme..
ao amanhecer o menino cresce..
o menino cresce todas as manhas..
o menino cresce toda vez que suas pálpebras descobrem seus cálidos olhos cansados.
Quando o castanho claro se apaga do seu olhar e a lua resolve chegar.. ele nasce mais uma vez...dorme menino.
Tranquilo como o sereno.
Suspirando profundamente.
O sol já chegou.
Acorda moço.
Levanta da cama, homem sério.
Guerreiro da luz, e guardião da escuridão.
Suas asas continuam, suspensas em baixo do seu cheiro e de sua roupa.
Seus olhos são o dia..
seus olhos são as noites..
seus olhos não sabem, seus olhos não vêem seu nascimento,quando a lua resolve se encontrar com o sol.
Suas asas mesmo que frágeis, são fortes também..
defendem o menino que se transforma, dos maldosos males.
E protegem os que estão com as suas asas quebradas e encolhidas.
Aquela menina não consegue tocar suas mãos..
seus pés descansos pisam em pequenos caquinhos de vidro espelhados no chão frio.
Mas ela não aprendeu ainda tirar os olhos do anjo escuro.
Em uma noite, ela encontrou aquele anjo em sua cama dormindo..
e tocou seu rosto.
E viu ele acordar.
As noites ficaram claras..
os dias foram cobertos por mantos..
as tardes não existem.
Uma menina se afogou no gosto amargo de suas próprias lágrimas que devoraram sua face lentamente..
aquele anjo, tocou sua pele, e beijou seu rosto com cuidado.
Seus lábios rosados..secaram a umidade do rostinho pequeno da menina.
Fabuloso garoto, que corre pelos céus meus.
Fabuloso garoto, sombra e luz daqueles meus sonhos-pesadelos.
Fabuloso garoto, que aponta a direção.
Aquela menina admira suas asas escuras.
Aquela menina te viu dormindo, ela sabe dos seus medos e dos seus desejos.
Aquela menina viu quando seus cílios compridos se separaram nos feixes do sol..
onde está o menino?
Ela viu o moço sair pela porta..
em seu sonho.
E ao acordar, ainda estava sonhando..
Vi penas negras..em minha cama essa noite.