segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sobre aquele anjo negro que conheceu.

Aquela menina sonhou com um anjo de asas negras.

Mas desta vez pode ver sua verdadeira forma.

Tão irreal e misterioso como a escuridão da noite.

Tão encantador quanto o esplendor da lua.

Tão vivo e intenso quanto a força do mar.

Tão sutil quanto o reflexo da luz que caminha gentil.

Suas enormes penas escuras escorregaram pelo ar e caíram docemente nas mãos de uma garota que vagava pelos seus pesadelos.

Aquele anjo voava alto como se nunca tivesse voado antes, como se estivesse há muito tempo preso nas garras afiadas de sua solidão.

Voava alto e se perdia nas nuvens do céu adormecido.

Voava alto como nenhum anjo voava. Veloz, como se a fúria dos seus medos tomassem conta dele, mas ao mesmo tempo, tão puro e amável.

Quase intocável.

Como uma sombra de luz abafada pela névoa.

A esplêndida escuridão pulsante do anjo enfeitiçaram os olhos da pequena menina, e seus dedos tocaram-lhe a face fria.

Tão feroz e doce.

O demônio e a luz aprisionados numa mesma pessoa.

Seus olhos ao tocarem os tocarem aos dela, lhe contavam fantasias e sonhos, lhe mostravam a verdade sobre pequenas coisas.

Um anjo negro sussurrou em seus ouvidos coisas que nenhum mortal deveria saber.

Ele assim o fez, porque pensou em dividir a responsabilidade por ter roubado tais segredos.

As cores invisíveis, as águas claras onde se deita a escuridão, as pequenas e grandes feras dos abismos, as sombras que perseguem os homens, os sons que têm existência…

Ela ouviu as batidas de seu coração, e foi como se escutasse tambores ecoando longe em uma floresta. Mas seu coração batia forte como as badaladas se um sino. Pulsando forte.

Dentro das sombras, ele está lá voando só, com as agulhas da vida presas em suas asas.

Suas rosas não são vermelhas, são negras como seu cabelo.

A chama de seus olhos ao se encontrarem com os curiosos e inocentes olhares da menina giraram os planetas de lugar.

Seus olhos escondiam o brilho que iluminava a lua serena, o encanto das estrelas. Escondiam segredos.

O que tinha em seus olhos? Era impossível não olhar para eles com atenção, porque eles lhe arrastavam para dentro deles e trancavam-te por segundos inimagináveis, por uma eternidade gostosa.

Olhos que transbordavam a alma e penetravam com tanta facilidade os pensamentos da pequena.

A menina se mergulhou neles e ficou afogada naquela maré castanha, na profundeza de seus pensamentos obscuros.

Por que aquele anjo parou de voar? Por favor, anjo negro, não pare de voar.

Não permita que as mentiras humanas atinjam suas asas, pois são as mais belas e firmes do que todos os anjos que já vi.

Somente o anjo da noite possui a luz da ilusão, a calidez de uma esperança esquecida, a euforia deliciosa do amor, a intensidade do ódio. Um brilho que jamais outro anjo teria. E somente ele faria essa menina sonhar.

Ao encontrar suas mãos com a face das pessoas, passa para elas, tão modestamente, toda sua força. Prefere que voem por ele.

Mas ninguém faria mais emocionante viagem do que esse pássaro da noite que rasga o céu.

É nesse sonho que aquela garota mostrou suas asas brancas para o anjo negro.

E ao tocar seu rosto triste, suas escuras asas machucadas se transformaram em penas brancas. Juntos sobrevoaram a escuridão como irmãos.

E doces lágrimas caminharam pela noite, se tornando as mais lindas estrelas.

Ela viu o anjo sorrir, e a noite se transformou em manhã, em sol, em luz.

E nessa passagem de pesadelo em sonho, o anjo negro com penas brancas bateu suas asas até o quarto da menina, e a observou dormir misteriosamente feliz.

Ela acordou.

domingo, 11 de abril de 2010

Sobre uma gotas da chuva.

Os guarda-chuvas dançam na melodia da chuva,
na sinfonia das gotas,
no canto das nuvens cinzentas,
nas notas sonoras da água.
Eu sou a gota de chuva que nasce das nuvens escuras, correm pelo ar, e espatifam no chão.
Que espatifam no seu rosto nu, beijam sua pele delicada e morrem ali.
As poças deitadas formam ninhos de mim nas calçadas,
no cimento gelado.
As poças de água são um mundo mágico.
Um céu quebrado no chão
onde em vez de tristes estrelas
brilham os letreiros de gás néon.
As gotículas molhadas escorregam pelo verde das folhas
e pelos perfumes das flores.
Se divertem alegres.
Os pássaros aflitos se encolhem e se escondem, assim como as pessoas o fazem.
Impressionante como o namoro do frio com a chuva ensaia a aproximação das pessoas.
Estranho como o frio atravessa as entranhas das nossas roupas e ataca ferozmente nossa sensível pele,
e ao invés de congelar,nos esquenta por dentro.
Febril.
Os pés molhados,
a mãos frias,
e seu rosto pálido
atravessam a geleira do ar.
Congela seus pensamentos.
Mas aquele paralismo mental agita-se sobre as neblinas brancas.
Seus dedos descem pelo vidro da janela.
A chuva varre o sol do rosto dela.
O vento passa assobiando pelos ouvidos da moça.
Sussurrando músicas.
O calor do corpo cheiram aos nossos olhos.
Perseguindo-nos.
A ausência da presença nos queima.
Nos queima no frio ardente.
O quente na baixa temperatura sólida.
Via você na janela, na distância,
na solidão na penumbra do entardecer.
Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
Via você no ontem , no hoje, no amanhã...
Mas não via você no momento.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sobre um vale.

E aquela rosa, finalmente chegou a secar.
Seu reflexo ao espelho, desapareceu.
Onde está sua alma agora?
Quebradiça.
Nadando em um vale de lágrimas
Águas salgadas
Amargas
Melancólicas.
Que te sugam a vida.
Te sugam a liberdade e a juventude.
O vale também secou ao tocá-la.
Aquele campo verde, desbotou.
Cores beges escuras ao redor.
O que ela vê ao penetrar naquele sádico horizonte ?
Infinito nada.
Anda sem sair do lugar.
Grita sem omitir som.
Chora sem escorrer lágrimas.
Pular com os pés no chão morto.
Procura sem encontrar nada.
Mal sabe o que está procurando.
Como será a verdadeira forma da libertação?
Seria um animal com asas?
Seria um feixe de luz branco e calidamente iluminado?
Tudo o que sempre imaginara.
Sem perceber um manto negro está a devorar seus restos.
Seu coração foi arrancado a força e colocado em uma balança de prata.
Se seu coração for mais leve que uma pena, terá um chance de sobreviver.
Sim, seu coração é mais leve.
Mas não por ser tão puro quanto pensava.
Estava enrugado como uma bexiga ao chegar próxima demais de uma agulha fina.
Só seus tecidos jogados ali naquela bandeja que refletia seu olhar triste.
Mesmo que se remende aqueles furos no peito, nunca mais voltara a ser como era.
Foram as traiçoeiras agulhas da vida.
Foram as lâminas afiadas de uma adaga de palavras.
Nesse mundo onde todos são agulhas e todos são adagas.
Acredito que até eu seja uma delas.
Provavelmente.
E ela pensa com cuidado..
'' Como se enche uma bexiga que está furada? ''

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sobre pétalas vermelhas.

Não,eu não sou um pássaro.
Não,eu não sou um gato pardo.
O que eu sou? Não sei dizer.
Talvez eu seja uma forma não reconhecida ainda.
Só vista pelos que tem olhos afrodisíacos.
Sim, eu sou uma sombra iluminada que passa pelos cantos das paredes.
Eu passo pelas ruas.
Invisível como o vento.
Sente-se e não vê.
Invisível no escuro e na luz.
Transparente e incolor.
Sem cheiro, sem tom.
Que cor sou eu?
Não sei que cor sou eu.
Sou uma mutação de cores ambulantes.
Nunca serei a mesma cor.
Não tenho cor para os olhos sólidos dos juízes que me apontam o dedo.
Não sou o réu e não sou a testemunha.
Estou em julgamento,mesmo que não me vejam.
Sou uma gota de chuva.
Sou um sopro.
Sou uma rosa vermelha.
Tenho espinhos, mas não são para te machucar.
São para me proteger daqueles que arrancam minhas pétalas pequeninas e fragilizadas, mesmo que assim ,raras e não conhecidas.
Por que diamantes são tão valorizados? Por que existem pouco deles por ai?
São raros.
Por que as pessoas que são raras como os diamantes não são tão valorizadas?
Por que não somos como lindos diamantes?
Tudo seria mais fácil.
Estou escondida em uma pedra.
Sou uma pedra.
E ainda sim sou uma flor.
Que perfume singular.
Apenas os beija-flor chegam a mim.
Os outros animais não possuem todo o esplendor de um pássaro como o beija flor.
As pétalas não caem sozinhas.
São arrancadas.
Sou uma flor murcha.
Coloque-me em um jarro de água?
Está tão difícil achar um de um copo de vidro delicado e fresco.
Essa rosa está amassada no chão,apodrecendo com os materiais orgânicos
Que se decompõe lentamente.
Estão cansados de existir.
Tire esta flor de lá, toque em seus espinhos.
E se doer, perceba que não há veneno por mais que tenha feito um corte em seu dedo.
Essa flor está doente.
Só precisa de um pouco de água para florecer novamente.
Quem sabe da próxima vez nasça mais bonita do que antes.
Seu perfume já estava sutil, e sua cor desbotada com os dias chuvosos.
Sou uma flor..
jogada no vento.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Sobre asas negras.

Moço de asas negras.
Por que as machuca tanto?
Ele dorme, com lágrimas vermelhas
Coração latejante.
O que é você?
Pequeno homem, me conte.
Grande menino, o que é você?
Por que esconde suas penas?
Aquele garoto não sabia chorar..
O que ele aprendeu enquanto voava na masmorra da vida?
As surpresas são armadilhas..
que o aprisionaram
Eu vejo lanças em suas asas.
Aquela prisão virou seu lar.
Seu bem precioso.
Lastimável.
No que ele sonha agora?
Suas nuvens ilusórias estão rindo.
Ele dorme tranquilo,
seus suspiros se esvaneiam no ar tão docemente.
Meu menino das asas negras, dorme..
ao amanhecer o menino cresce..
o menino cresce todas as manhas..
o menino cresce toda vez que suas pálpebras descobrem seus cálidos olhos cansados.
Quando o castanho claro se apaga do seu olhar e a lua resolve chegar.. ele nasce mais uma vez...dorme menino.
Tranquilo como o sereno.
Suspirando profundamente.
O sol já chegou.
Acorda moço.
Levanta da cama, homem sério.
Guerreiro da luz, e guardião da escuridão.
Suas asas continuam, suspensas em baixo do seu cheiro e de sua roupa.
Seus olhos são o dia..
seus olhos são as noites..
seus olhos não sabem, seus olhos não vêem seu nascimento,quando a lua resolve se encontrar com o sol.
Suas asas mesmo que frágeis, são fortes também..
defendem o menino que se transforma, dos maldosos males.
E protegem os que estão com as suas asas quebradas e encolhidas.
Aquela menina não consegue tocar suas mãos..
seus pés descansos pisam em pequenos caquinhos de vidro espelhados no chão frio.
Mas ela não aprendeu ainda tirar os olhos do anjo escuro.
Em uma noite, ela encontrou aquele anjo em sua cama dormindo..
e tocou seu rosto.
E viu ele acordar.
As noites ficaram claras..
os dias foram cobertos por mantos..
as tardes não existem.
Uma menina se afogou no gosto amargo de suas próprias lágrimas que devoraram sua face lentamente..
aquele anjo, tocou sua pele, e beijou seu rosto com cuidado.
Seus lábios rosados..secaram a umidade do rostinho pequeno da menina.
Fabuloso garoto, que corre pelos céus meus.
Fabuloso garoto, sombra e luz daqueles meus sonhos-pesadelos.
Fabuloso garoto, que aponta a direção.
Aquela menina admira suas asas escuras.
Aquela menina te viu dormindo, ela sabe dos seus medos e dos seus desejos.
Aquela menina viu quando seus cílios compridos se separaram nos feixes do sol..
onde está o menino?
Ela viu o moço sair pela porta..
em seu sonho.
E ao acordar, ainda estava sonhando..
Vi penas negras..em minha cama essa noite.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Sobre rosas vermelhas.

Queria encantar-te.
Ser a menina dos olhos teus.
Entusiasmar sua alma.
Enfeitiçar seu sentidos e iludir seu coração. Manipular seus desejos.
Não sou francesa, nem vivo nas músicas do passado.
Não sou tão cult quanto queria, ou tão engraçada a ponto de te surpreender.
Mas na ausência dos minutos, aquela menina invadiu seus gostos e dominou sua imaginação.
No reflexo de seus olhos, naquela tarde.
Suas pupilas contraídas me contaram seus segredos.
Vi meu reflexo solto nos seus sonhos escuros.
No vento.
Aquela menina se transformou, sem saber.
Passou pela strepetese da alma.
Sem ao menos se notar, agora está se vendo em seu sorriso despreocupado.
Aquelas grandes asas longas com penas brancas envolvem sua pele queimada do sol. Não quero os olhares de outros seres,
nem outros amores,
poesias.
Ela aprendeu a despertar algo novo em pequenos cantos teus.
'' Não há razão nas coisas feitas pelo coração ''
Insistir em gostar do inverso.. que irracionalidade, mas ao mesmo tempo..
Que sensação gostosa.
Experimentar o proibido.
O tédio me persegue quando estou nos olhos não-seus.
Meu menino, aeroporto de olhares meus.
Meus limites já podem superar sua facilidade com o emprecionar-se.
Caminhando contra o vento sem lenço,
sem documento.
Nada no bolso ou nas mãos.
Vou percorrendo as longas estradas da contradição e da loucura.
Da suculenta loucura do amar.
Uma rosa vermelha perdida nos cantos de uma rodoviária.
Ainda está em suas mãos.